Confraria de S. Antônio do convento franciscano da Bahia

Identificador: 
RE-40
Tipo: 
Lugar: 
Cidade de Salvador da Bahia
Data Inicial: 
08/12/1597
Observações: 

Confraria relacionada com a devoção a Santo Antônio de Arguim, no convento franciscano de Salvador da Bahia. A transcrição do documento de fundação da confraria aparece em ILHA:

 

"31. DELIBERAÇÃO DO ILUSTRÍSSIMO SENHOR FRANCISCO DE SOUZA. GOVERNADOR DE TODA A TERRA BRASILEIRA E DO ESTADO. DO ADMINISTRADOR DOS IMPOSTOS REAIS. DOS VEREADORES E NOBRES DA CIDADE DA BAHIA PELA QUAL SE INSTITUIU A CONFRARIA DE S. ANTÔNIO NO CONVENTO DE S. FRANCISCO DA MESMA CIDADE ETC.

“Aos oito dias do mês de dezembro de mil quinhentos e noventa e sete anos, em esta cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos nas partes do Brasil, em o aposento e casas donde mora o muito ilustríssimo Senhor dom Francisco de Sousa, do conselho de sua majestade e governador de todo o dito estado, estando presentes Christovão de Barros, fidalgo da casa del-Rei Nosso Senhor e provedor-mor de sua fazenda no dito estado, e bem assi os oficiais da câmara do presente ano Martym Affonso Moreira e Pedro Vazeto, juízes ordinários, e Fernam Vaz, Manoel de Sá Cunha e Pedro Aires de Aguirre, vreadores e procurador da dita cidade e pessoas nobres da governança; e entre todos foi tratado quão acertado e necessário era fazer-se e constituir-se uma confraria ao bem aventurado S. Antônio pelo muito que esta cidade e capitania lhe devia pelos milagres que nosso Senhor fizera por sua intercessão.

32. Porque fazendo-se uma armada em França de doze velas para vir roubar e saquear esta cidade e capitania de franceses luteranos e vindo pelo Castelo de Arguim ao qual fizeram guerra e o entraram e mataram gente que nele estava e o saquearam e lançaram por terra e o edifício da igreja, tomando o bem aventurado S. Antônio que em um altar estava e o trouxeram em um dos navios em o convés aonde lhe fizeram muitas ignominias e afrontas, escarnecendo dele e afilhando-lhe um cão grande que traziam, dando-lhe cutiladas pela cabeça e outras muitas partes. E cometendo armada sua viagem para por em efeito ao que vinham a esta cidade, se começaram a dividir em forma que quando chegarão a ela vinham desbaratados, fazendo o bem aventurado santo muitos milagres, como consta do instrumento que se tirou que está no mosteiro de S. Francisco desta cidade, que foi causa de Nosso Senhor nos defender da ira dos luteranos. Além do que dito é, foi vista outra armada de muitas velas de fronte desta cidade e nesta costa, sem fazer dano; e andando de fronte da dita cidade umas naus francesas, uma se perdeu no Rio Real, em forma que os ditos franceses não fizeram nada do a que vinham, e uns se tomarão e outros se entregarão que estão na cadeia e outros foram para o reino e os maiores enforcaram nesta cidade.

33. Pelo que sendo necessário gratificar e ter conhecimento de tantas mercês recebidas do bem aventurado santo que Nosso Senhor por seus meios fez tomar o esta cidade por padroeiro e defensor, assentou o senhor governador e o senhor Bispo e provedor mor e oficiais da câmara, pessoas nobres, fundar e instituir uma confraria em forma que se tivesse nela muita elevação, em o mosteiro do bem aventurado S. Francisco, onde o santo está em altar separado; e se assentou que o senhor governador que é e que for sempre ao diante fosse juiz da dita confraria e o vereador mais velho e uma dignidade da Sé mordomos, e o juiz mais moço escrivão e o procurador da cidade tesoureiro, e assim ficasse sempre para os governadores que viessem e oficiais declarados serem na dita forma. E que no quarto domingo do advento se fizesse uma solene procissão, onde nela fosse a bandeira da cidade e a câmara formada com a ordem e solenidade e festas que se tem nas quatro do ano, para assim com mais devoção e alegria se dar graças ao Senhor Deus pelos benefícios e mercês recebidas em veneração do bem aventurado santo, na qual ele irá em uma charola e o levarão quatro pessoas que então se assentar, e se fará lembrança a sua majestade o aja assim por bem mande se cumpra com efeito, com se mais lembrar ao senhor Bispo que com o cabido e clerezia assentasse viessem a procissão como vinham às quatro da obrigação. E de tudo assim se assentar se mandou fazer este auto no livro e tombo da câmara para em todo tempo constar o nele declarado e se tresladasse no livro da confraria, concertado por um dos mordomos, o qual auto eu Diogo Ribeiro tabelião do público judicial por el-Rei nosso Senhor nesta cidade do Salvador e seu termo fiz por mandado dos senhores governador e Bispo e oficiais da câmara que uns e outros assinarão o sobredito; e assim mais se assentou que o santo fosse na procissão debaixo de um pálio e que os oficiais do ano passado levassem as varas na forma que o faziam dia de Corpus Christi e estava assentado em câmara. O sobredito escrevi etc. Dom Francisco de Sousa. Episcopus brasiliensis.

34. O supradito está firmado e testificado no arquivo deste convento de S. Francisco da Bahia. O licenciado Pero de Campo decano e neste tempo provisor da mesma cidade, transcreveu a relação destes fatos. Não só os portugueses e outros católicos que vinham nos navios, foram testemunhas do milagre, mas também os próprios franceses luteranos, os quais, para sua maior confusão e pureza de nossa santíssima fé, confessaram e deram testemunho do sucedido perante o mesmo provisor que fez dois processos dignos de fé, dos quais um ficou no convento e o outro foi remetido ao rei Filipe II da Espanha, que o solicitara, e depois o mesmo Pero de Campo, que ainda vivia, fez esta transcrição e aprovação de maneira autêntica, que assim se deu etc.

35. O licenciado Pero de Campo Deão da Sede desta cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos provisor e vigário geral nela etc. Aos que esta minha certidão virem e o conhecimento dela com direito pertencer, saúde em Jesus Cristo Nosso Salvador: faço saber que servindo eu os ditos cargos em vida do Bispo Dom Antônio Barreiro, de boa memória, ouvindo as cousas que apregoavam as pessoas que vieram em a nau do capitão francês Pão de Milho assim um português como alguns flamengos que nela vieram como também os mesmos luteranos franceses acerca das maravilhas que Nosso Senhor obrou pelo seu grande servo e padre S. Antônio, o qual os ditos luteranos trouxeram do Castelo de Arguim até esta costa, aonde o lançaram ao mar, me pus logo, com o escrivão da câmara do dito Bispo que então era Antônio Gomes que aja gloria, a perguntar todas as pessoas que das sobreditas pude fazer vir ante mim, e de seus ditos se fez sumario pelo qual segundo minha lembrança se provava todo o conteúdo no relatório acima escrito; o que certifico passar na verdade pelo juramento de meus cargos e me reporto em tudo ao proprio sumario, que eu então logo entreguei ao reverendo padre Fr. Francisco dos Santos, que neste tempo servia de guardião da casa de S. Francisco desta cidade. Dada nesta cidade do Salvador sob meu sinal e selo da chancelaria do senhor Bispo desta cidade etc. E eu o diácono Gonçalo Rodriguez que o escrevi por mandado do senhor provisor e vigário geral em ausência de Melchior da Costa, escrivão da câmara do senhor Bispo, e diante o senhor provisor, em seis dias de fevereiro de 1609 anos. Pero de Campo, provisor e vigário geral."

ILHA, Manuel da (1975). Narrativa da custódia de Santo Antônio do Brasil, 1584-1621 (I. Silveira, Trad.). Petrópolis: Vozes.

 

Como citar este verbete: 
SATLER, Fabiano Aguilar. "Confraria de S. Antônio do convento franciscano da Bahia". In: Base de Dados BRASILHIS: Redes pessoais e circulação no Brasil durante o periodo da Monarquia Hispânica (1580-1640). Disponível em: https://brasilhis.usal.es/pt-br/node/9027. Data de acesso: 19/04/2024.