Convento Franciscano da Paraíba

Identificador: 
CO-1
Identificador Interno: 
CO-13010
Tipo: 
Religioso
Lugar: 
Cidade de Filipéia
Data inicial: 
1589
Alt
Há vestígios originais visíveis?: 
Observações: 

Padroeiro(a): S. Antônio

Município atual: João Pessoa (PB)

Fundação: 1589

Fundado por fr. Antônio de Campo Maior durante o governo do custódio franciscano Fr. Melchior de Santa Catarina, OFM

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"O Padre Frei Melchior de S. Catarina procurou sempre, com grande ardor e habilidade, contratar operários para esta vinha e seara do Senhor depois que entrou neste novo Portugal. Assim, nos primeiros anos em que dirigiu e iniciou esta Custódia, não descansou enquanto não socorreu com magnanimidade e fervor de espírito, por si ou por seus filhos, às necessidades mais urgentes tanto na conversão dos gentios como na fundação e edificação de conventos. Desses conventos, como de fortalezas do céu, se enviaria auxílio às almas que o desconhecem inteiramente e também aos Religiosos que viriam a habitar nas aldeias e missões dos gentios, ensinando, catequizando, batizando e administrando os sacramentos aos recém-convertidos. Isto até hoje se faz, com extraordinário empenho tanto por parte dos prelados quanto dos súditos, devido à longa distância que separa os mesmos conventos e por causa da terra inculta, que é habitada somente ao longo da costa; também aconselha tal medida o perigo comum seja da terra ou do mar que nunca falta, porque só se presta à navegação em determinados tempos, fora dos quais os navegantes não estão livres de risco, como a experiência repetidas vezes o tem demonstrado. Em terra os caminhos são difíceis, longos, inóspitos, ladeados de grandes florestas das quais saem incursões de índios inimigos e rapaces.

38. Nada disto impediu até hoje ao Padre Frei Melchior de Santa Catarina e seus sucessores de prosseguir nesta santa empresa e de atender a todos os pedidos que o povo e a câmara lhes faziam para edificarem conventos e auxiliarem a salvação das almas e a conversão dos indígenas. Por isso quando o Custódio voltou da Bahia para a vila pernambucana, depois de dar determinações a respeito da moradia dos Frades que em breve iam estabelecer-se na vila de Igaraçu, seguiu imediatamente para a cidade da Paraíba no ano do Senhor de 1589, porquanto já há muito tempo os prefeitos que a governavam bem como a câmara e o povo o pediam insistentemente. Como desejavam aumentá-la, estendê-la e além disso incutir coragem no povo para se concentrar nela, julgaram que o melhor e mais oportuno meio realizar seu intento seria o de para lá conduzir moradores que não desejassem nada da terra. De fato, os moradores eram reduzidos e molestados por continuas incursões dos índios potiguares. Comprometeram-se por isso a construir perto da vila, e dentro de suas possibilidades, casas de barro para moradia dos pobres Frades etc.

39. Edificado o domicílio para alojamento dos Frades — que nos inícios não se preocupavam com grandes construções — quis o Custódio em primeiro lugar ir de encontro â grande falta de operários da messe do Senhor, de que se ressentia tanto a terra, porquanto fora justamente este o motivo que levou-o a ele e aos outros Religiosos a irem para terras tão remotas. E porque nesta Capitania havia talvez mais índios do que em outras a serem convertidos à fé católica e ao conhecimento de Deus, ele recebeu o maior número deles para a instrução e conversão, como se verá mais adiante quando se falar das doutrinas. Este convento dista 24 léguas da vila pernambucana e situa-se no 7º grau da zona tórrida ao norte; habitam-no 12 ou 13 Religiosos etc."

ILHA, Manuel da (1975). Narrativa da custódia de Santo Antônio do Brasil, 1584-1621 (I. Silveira, Trad.). Petrópolis: Vozes.

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INTRODUÇÃO AO LIVRO DOS GUARDIÃES DO CONVENTO DE ST.º ANTÔNIO DA PARAÍBA

Os livros dos guardiães conservados até os nossos dias são os da Bahia (LGB), de Ipojuca (LGI), da Paraíba (LGPB) e alguns fragmentos do de São Francisco do Conde (LGC), sendo a sua finalidade perpetuar os nomes dos guardiães e suas realizações a bem dos respectivos conventos. 

A escrituração destes livros não começou com a fundação dos conventos, tendo havido ordem para sua composição na congregação de 1745 presidida pelo Provincial Frei Ruperto de Jesus, segundo esclarece o LGI (pág. 204). Daí se explicam os lapsos cronológicos quanto às três primeiras fundações e a inexata e incompleta relação dos guardiães. 

Um benemérito cronista franciscano foi Frei Frutuoso da Solidade, por ter zelado pelo arquivo conventual da Paraíba e completado os dados do LGPB conforme consta das folhas 1, 1v, 9 e 9v do manuscrito. Até 1810, a letra do LGPB é a mesma, permitindo a conclusão de se tratar de uma cópia feita nesse ano. A partir de 1811, verificam-se as letras mais variadas, traindo o original. 

O LGPB pertence ao Arquivo Provincial dos Franciscanos do Recife (AP), onde fica registrado sob o n.° 156 (antigo XVIII, 19). Devemos ao saudoso Franciscano Frei Menandro Rutten a cópia datilografada e as notas 7, 22, 24, 26, 58 e 82. 

Os amigos da arte encontram no LGPB relativamente muitas indicações sobre o paulatino desenvolvimento das obras de construção e o embelezamento do atual prédio conventual, cujo início deve remontar aos começos do século XVIII, enquanto Frei Manuel dos Mártires, a partir de 1655, se terá limitado à restauração do primitivo convento, segundo o “Diálogos das Grandezas do Brasil”, “suntuoso, o melhor dos daquela Ordem de todo o Estado do Brasil”. 

Visto que o convento de St.° Antônio da Paraíba passou a sua fase mais importante, nos trinta primeiros anos de sua existência, sobre a qual o LGPB quase nada refere fazemos seguir aqui um resumo dessa época. 

Instalada em 1585 a custódia franciscana de St.° Antônio do Brasil, com sede em Olinda/PE, o povo e o senado da Paraíba, apoiados pelo cardeal Alberto, regente de Portugal, pediram ao Pe. Custódio Frei Melchior de Santa Catarina fundasse um convento na Filipéia, atual João Pessoa. Em fins de 1588 ou princípios de 1589, Frei Melchior examinou pessoalmente as condições do terreno oferecido para a fundação anuindo em seguida ao pedido e deixando logo alguns frades sob a direção do guardião Frei Antônio do Campo Maior. 

Os Franciscanos assumiram, desde então, as missões de Almagra, na enseada de Tambaú e ao Norte do povoado homônimo, Praia, Guiragibe ou Assento do Pássaro, ao Sul de Tebiri e a três léguas da Cidade, Joane e Mangue às quais em 1593 acrescentaram as de St.° Agostinho, Assunção ou Ipopoca, atual Alhandra, que Jaboatão confunde com Jacoca, Piragibe ou Braço do Peixe, atual Ilha do Piragibe, Jacoca que provavelmente vem a ser Gramame, onde residiam quatro religiosos. Em 1603, o governador Diogo Botelho confiou aos franciscanos ainda três centros missionários com 16 aldeias dos Potiguara, cujos nomes não nos foram transmitidos, morando em cada uma das três residências centrais quatro sacerdotes que a dois e dois visitavam as aldeias circunvizinhas. (Cf. Frei Vicente do Salvador HISTÓRIA DO BRASIL S. Paulo 1965, pág. 343ss). 

Até aproximadamente 1619, os franciscanos zelaram as numerosas missões, quando o Prelado de Pernambuco entendeu de entregar toda a catequese dos índios a representantes do Clero Secular. Como, porém, os poucos Padres não se saíram bem na árdua vida missionária, tanto o Prelado como o próprio Rei pediram aos Franciscanos reassumissem as missões, ao que estes se negaram. 

Em atenção ao grande número de missionários até 1619 destacados na Paraíba, o convento da Cidade adquiriu aos poucos proporções bem amplas. Frei Manuel da Ilha (fls. 281) fala de prédio espaçoso, mas não muito grande, ao tempo de Frei Melchior de Sta. Catarina, sendo de presumir que Frei Francisco dos Santos, por volta de 1590, tenha elaborado a planta e, durante a sua guardiania de 1602 a 1605, tenha completado as obras, segundo dá a entender o LGPB n.° 5 “fês muita parte nesta casa”. 

Jaboatão aponta doze celas, no recolhimento primitivo. 

A partir da guerra holandesa, o texto do LGPB e as notas explicativas familiarizam-nos com os dados principais da crônica conventual da Paraíba.

 

[Início da relação do autor do livro]

No ano de mil quinhentos e noventa, aceitou esta casa de Santo Antônio da Paraíba o Irmão Fr. Melchior de Santa Catarina, primeiro Prelado e  fundador desta Custódia, o qual obrigado a instância, que o Capitão Frutuoso  Barbosa, e outros conquistadores desta Capitania, que até aquele tempo estava  ocupada de índios Potiguares; aí fizeram e muito mais do zelo da salvação  das almas, recebeu esta casa com intento de aproveitar não somente aos portugueses,  que novamente fundavam esta cidade, mais ainda aos índios ensinando-  lhes os nossos Religiosos a santa doutrina, como depois fizeram em muitas  aldeias, e principalmente na de Joacoca aonde assistiram muitos anos, fazendo com a doutrina muitos frutos nos índios.

WILLEKE, Venâncio (Ed.) (1968)Livro dos Guardiães do Convento de St.º Antônio da Paraíba. Revista do IPHAN, 16, 253-255,274.

Como citar este verbete: 
SATLER, Fabiano Aguilar. "Convento Franciscano da Paraíba". In: Base de Dados BRASILHIS: Redes pessoais e circulação no Brasil durante o periodo da Monarquia Hispânica (1580-1640). Disponível em: https://brasilhis.usal.es/pt-br/convento-franciscano-da-paraiba. Data de acesso: 01/12/2024.