Procissões Rogativas jesuítas

Identificador: 
RE-59
Tipo: 
Lugar: 
Cidade de Salvador da Bahia
Fecha Inicial: 
1549
Observaciones: 

"Data de 1549 a primeira procissão rogativa, por ocasião duma grave doença epidêmica. Foi a mesma em que, também pela primeira vez, se aplicaram as sangrias, começo de uma série de muitas outras pelas necessidades ocorrentes. Uma das devoções particulares dos Jesuítas, e que eles inculcavam aos demais, era a dos Santos Anjos. Numa epidemia de priorizes, em Piratininga, fizeram-se nove procissões, aos nove coros dos Anjos, com a 'mor solenidade possível', ía nelas toda a gente não atingida pela peste, homens e mulheres, com luzes de cera na mão, os meninos da escola, com cruzes às costas, e disciplinando-se até ao sangue. Entretanto, faziam os Padres penitência em casa. Realizavam-se também, para obter bom tempo ou terminar a seca, como a de 1559, em que se estiolavam os mantimentos. A que se realizou na Bahia, em 1614, com este mesmo fim, teve a sua clausura na igreja do Colégio, a pedido da Câmara. Outras rogativas se faziam por diversas intenções: em 1556, pela saúde de D. João III; em 1560, com disciplinas, pelo bom êxito da expedição de Mem de Sá contra os franceses e Tamoios do Rio de Janeiro; em 1592, com ladainhas, pelas coisas e sossego da França, conforme carta de P Ximenes, Secretário Geral da Companhia, de 24 de dezembro de 1591.

O P. Henrique Gomes descreve assim as rogativas de 1614:

Viu-se particularmente esta frequência [de pregações] este ano, tempo em que o Senhor nos visitou com um castigo, ou castigos que deu a esta terra: primeiro com uma seca mui extraordinária, por cujo respeito, além dos gados que nela morreram, e outras perdas de momento, houve uma maior que todas, e é não se lograrem as novidades, cuja falta, hoje, a vai pondo em fome e carência da abundância, que pudera haver de açúcares; pera se atalhar este mal, e se desviar o golpe da Divina Justiça, se aplicaram muitos meios de orações, missas, comunhões e outras pias obras e, entre as mais, muitas procissões de notável concurso de gente e grande número de penitentes, que certo é pera ver a facilidade com que nesta terra os homens se disciplinam, não só por toda a quaresma com disciplinas de sangue, mas ainda secas, em a nossa igreja, em os dois dias da semana que pera isso se lhes abre, passando, de ordinário, o número de cento e cinquenta, cento e sessenta pessoas, e destas a maior parte toma duas disciplinas, a primeira comua, e a segunda com os cantores que à 1ª cantaram o Miserere, e todos assistem às práticas que se lhes fazem às sextas-feiras. Mas, tornando às nossas procissões, foi, entre as mais, muito pera ver, assim em concurso de gente com suas tochas e velas nas mãos, como em bom número de penitentes que passariam de 60, a que fizeram os estudantes confrades da Confraria de Nossa Senhora, ou como lá lhe chamam, das Onze-Mil-Virgens, padroeiras desta cidade. Coube aos nossos grande parte de tudo quanto se fez, não menos em penitências, e outras devoções, que em as pregações, e particularmente outras admoestações, com que a todos excitavam e principalmente a que tirassem a causa do mal, que eram pecados, de que se não colheu pouco fruto. E, ultimamente, querendo a cidade, à imitação do cabido, que sua procissão se terminasse com o Santíssimo Sacramento desencerrado, escolheram pera isso a nossa igreja, havendo (como alguns disseram) que quando o Senhor os não ouvisse por seus pecados, os ouviria pelo lugar em que o buscavam e merecimentos dos que ali o tinham e guardavam; vieram, para esse efeito, os da Câmara propor sua pretensão a este Colégio. Fez-se, como pediram. Mas diferiu-se, contudo, o despacho da nossa e suã petição, ou porque assim o mereciam nossas culpas, ou por querer o Senhor mostrar-nos quanto devíamos estimar a proteção e amparo que tem esta cidade em suas padroeiras, as Onze-Mil-Virgens, em a véspera de cujo dia, e festa que a Confraria lhes faz, foi servido começar a levantar o castigo com boa cópia de água, e ainda que esta não durou mais que dois ou três dias, foi mui grande alívio pera toda a terra. Aqui era pera ver a santa competência de a quem se devia atribuir a mercê, porém, os mais dos votos tiveram por si os meninos de nossa escola, que, levados de uma santa inveja, não contentes de se acharem em todas as mais, quiseram também por si fazer sua procissão. Pera isto se prepararam uns com suas velas metidas em lanternas de papel, postas em paus, a modo de tochas, outros com cruzes e outras insígnias de penitentes, e todos descalços, juntos mais de 150 nesta forma começaram a entoar dois as ladainhas à porta da nossa igreja da banda de fora, e respondendo os mais se foram pelas ruas principais da cidade com edificação mui notável de quantos os viam, não sabendo se se espantassem mais da ordem e concerto, com que iam, se da devoção que mostravam, e em especial um que no couce da procissão levava um crucifixo em as mãos, coberto com um véu e acompanhado de duas tochas representava a mais devota e bem composta figura, que com muitos ensaios se pudera pintar: começou o ato com meninos, mas como se continuou, e voltaram per onde saíram, podia-se ver o acompanhamento de gente que traziam após si, trocada já a música de cantochão em a de órgão, que alguns músicos bons cantavam, movidos da devoção que a todos fez aquela vista, como lhe chamavam, de anjos. Nesta forma, continuando por muitos dias, indo umas vezes a uma igreja, outras a outra, e nas dos conventos, ainda que de noite, os receberam com as portas das igrejas abertas e mostras do muito que estimavam tanta piedade em tão tenras idades, e de uma das vezes se lhes fez no mosteiro dos Padres Bentos uma breve exortação, e por ser fora da cidade, e se terem já acabado as velas, a alguns os mesmos Padres os proveram”.

Fonte: Leite, Serafim, História da Companhia de Jesus no Brasil - Vol. 1 (Tomos 1, 2, 3), p. 322s.

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Cómo citar esta entrada: 
SATLER, Fabiano Aguilar. "Procissões Rogativas jesuítas". En: BRASILHIS Database: Redes personales y circulación en Brasil durante la Monarquía Hispánica, 1580-1640. Disponible en: https://brasilhis.usal.es/es/religiosidad/procissoes-rogativas-jesuitas. Fecha de acceso: 16/10/2024.