Devoção à Santa Cruz

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RE-68
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“Esta Devoção à Cruz manifestou-se em toda a parte, e restam-nos inúmeros testemunhos. Quando os órfãos de Lisboa percorriam as Aldeias dos arredores da Bahia, levavam sempre uma Cruz. Os índios viam-nos e faziam outras. Para as honrar, abriam caminhos e faziam terreiros e nelas as erguiam. [...] E a prova de que não ficava só em exterioridades festivas, mas supunha fé viva, é o caso do índio cristão, narrado por Beliarte, em 1591. Numa guerra foi gravemente ferido pelos contrários, e abandonado pelos seus próprios companheiros. Vendo-se perdido, fez o sinal-da-cruz, e invocando a S. Barnabé, patrono da sua Aldeia, atirou-se ao rio, nadou e salvou-se2. Era já na última década do século XVI. Mas muitos anos antes, nos alvores de Piratininga, numa guerra perigosa com índios contrários, a mulher do chefe piratiningano, para esforçar à vitória os combatentes de seu marido, não achou recurso mais eficaz do que incitá-los a fazer o Sinal da Cruz. ” (Leite, Serafim, História da Companhia de Jesus no Brasil - Vol. 1, p. 328s.)

O jesuíta Fernão Cardim, em seu "Tratados da terra e gente do Brasil", faz referências a esta devoção:

"Aos 3 de maio, dia da Invenção da Cruz, houve jubileu plenário em nossa casa, missa de canto de órgão, oficiada pelos índios e outros cantores da sé, com flautas e outros instrumentos músicos. Preguei-lhes da cruz, por terem aqui uma relíquia do santo lenho em uma cruz de prata dourada, que foi de uma das freiras de Alemanha, a qual a imperatriz deu para este colégio, com licença do sumo pontífice. Comungaram passante de 300 pessoas, e tudo se fez com muita festa e devoção.

[...]

Ao dia seguinte vieram os principais da vila três léguas receber o padre. Todo o caminho foram escaramuçando e correndo seus ginetes, que os têm bons, e os campos são formosíssimos, e assim acompanhados com alguns 20 de cavalo, e nós também a cavalo chegamos a uma cruz, que está situada sobre a vila, adonde estava prestes um altar debaixo de uma fresca ramada, e todo o mais caminho feito um jardim de ramos. Dali levou o padre visitador uma cruz de prata dourada com o santo lenho e outras relíquias, que o padre deu àquela casa; e eu levava uma grande relíquia dos santos tebanos. Fomos em procissão até a igreja com uma dança de homens de espadas, e outra dos meninos da escola; todos iam dizendo seus ditos às santas relíquias. Chegando à igreja demos a beijar as relíquias ao povo."

 

 

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SATLER, Fabiano Aguilar. "Devoção à Santa Cruz". En: BRASILHIS Database: Redes personales y circulación en Brasil durante la Monarquía Hispánica, 1580-1640. Disponible en: https://brasilhis.usal.es/es/religiosidad/devocao-santa-cruz. Fecha de acceso: 28/03/2024.